Falar da obra Calumbi é mergulhar nos três mundos de Cleide Paiva: o real, o imaginário e aquele que só conhece quem se debruçar na sua leitura. A autora diz ser amante de Luís da Câmara Cascudo e muitos dos seus textos são resgates da cultura, tradição e costumes do seu povo que cria um folclore único nos seus contos infantis e adultos. Calumbi faz-nos abrir janelas e enxergarmos novos horizontes: um sítio cheio de verdes plantas, uma casa mal-assombrada, um lobisomem ou um menino peralta a aprontar coisas com os adultos. Adentrar no mundo de Cleide é preciso amar o povo, as casinhas, o mato, as manhãs e os gatos. É preciso acreditar que o céu pode cair na terra.
Os contos de Cleide Paiva chegaram até mim através dos Correios escritos à mão com letra de criança que ainda está aprendendo a ler. Foi um presente que recebi numa certa tarde de verão. Um presente para guardar nas minhas lembranças. A cada semana recebia novos contos, poesias, orações, crônicas e assim Cleide foi escrevendo a sua obra Calumbi. Um livro com os encantos de uma mulher que vê na Casa das Almas a beleza de um mistério ou que se encanta com uma nuvem a se transformar em um pão de mel, tudo é beleza na escrita sedutora de Cleide Paiva. Calumbi abre portas para um pensar crítico e reflexivo sobre a vida nos pequenos lugares e sítios de onde as pessoas estão fugindo para vir morar nas cidades grandes. Cleide Paiva fala dessa saudade de viver perto de um povo que tem grilos nas gargantas.
O leitor de Calumbi passará por estradinhas de barro, cafezinho feito de madrugada, namoricos às escondidas, poesias de final de ano e de meninos peraltas que podem ser castigados caso não obedeçam às suas mães. Calumi é múltiplo nos seus gêneros literários, indo da poesia aos contos infantis, imaginários e reais. Para uma escritora que tem nas mãos o barro vermelho dos tijolos feitos numa fôrma Cleide Paiva também tem nas mãos a bravura de aventurar-se no folclore do seu povo traduzindo imagens do que estava no seu pensar para o papel. Assim como os contos de fadas que reuniram tradições dos povos dos seus países Cleide Paiva reúne na obra Calumbi o que há de mais belo em Sítio Serra Nova e no seu mundo imaginário.
Tenho em mim a sabedoria de que a obra Calumbi é grandiosa pela simplicidade da escrita de Cleide Paiva que buscou em Luís da Câmara Cascudo inspiração para falar do seu povo contando histórias de uma forma ímpar e singular que é a construção das suas palavras cuidadosamente tomadas do seu povo, dos seus costumes, do seu cotidiano que procurei preservar na revisão. Tomei gosto, leitor por Calumbi!
Rosângela Trajano
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